Cientistas da NOVA Medical School descobrem o surpreendente papel do colesterol glicosilado na aterosclerose, abrindo caminho a novos diagnósticos e terapias.
Um estudo inovador identificou um lípido menos estudado, o colesterol glicosilado (GlcChol), como um elemento-chave no desenvolvimento e progressão da aterosclerose - uma das principais doenças cardiovasculares e causa subjacente de enfartes agudos do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais. A descoberta traz novos dados sobre como os macrófagos - as principais células do sistema imunitário envolvidas na formação e no processo inflamatório das placas ateroscleróticas - se tornam disfuncionais, constituindo um alvo promissor para futuras estratégias terapêuticas e de diagnóstico cardiovascular.
A investigação, publicada na prestigiada revista Journal of Lipid Research, foi liderada por André Marques, investigador auxiliar no Laboratório de Lisossomas e Doença da NOVA Medical School, e teve como ponto de partida os paralelismos observados entre a acumulação de lípidos em determinadas doenças lisossomais de armazenamento (LSDs) e nas placas ateroscleróticas. “Questionámo-nos se um mecanismo semelhante de sobrecarga lipídica, nomeadamente com a formação de GlcChol, poderia estar a afetar os macrófagos em lesões ateroscleróticas humanas”, explicou o primeiro autor do estudo.
Os resultados revelaram que o GlcChol não só está presente em lesões ateroscleróticas humanas, como se encontra significativamente acumulado nas células “foam” derivadas de macrófagos. Recorrendo a amostras de tecido humano e modelos animais, a equipa verificou que a acumulação de GlcChol está associada a stress oxidativo, a danos no ADN, à paragem do ciclo celular e alterações na resposta inflamatória destas células - com implicações diretas na fisiopatologia da doença cardiovascular.
Mais impressionante ainda, doentes que haviam sofrido um enfarte do miocárdio apresentavam níveis elevados de GlcChol em relação ao níveis de colesterol presente no sangue, sugerindo um papel sistémico e o seu potencial uso como biomarcador de eventos cardiovasculares agudos.
“Este não é apenas um subproduto passivo”, sublinhou André Marques. “O GlcChol contribui ativamente para as alterações celulares patológicas que promovem a transformação dos macrófagos nas placas e a progressão da doença.”
Apesar de ser necessária investigação adicional para compreender em profundidade os mecanismos biológicos e o potencial terapêutico do GlcChol, esta descoberta representa um avanço importante na forma como encaramos e abordamos as doenças cardiovasculares. Ao trazer novo conhecimento sobre um tipo de lípido até agora negligenciado, o estudo abre novas e promissoras vias para a inovação no diagnóstico e no tratamento - com possíveis repercussões que podem ir muito além do foro cardiovascular.
O estudo foi realizado por uma equipa multidisciplinar da NOVA Medical School,: André R.A. Marques, Inês S. Ferreira, Quélia Ribeiro, Elizeth Lopes, Daniela Pinto, José Ramalho, Manuel S. Almeida, Winchil L.C. Vaz e Otília V. Vieira, bem como por vários colaboradores de outras instituições em Portugal e no estrangeiro.