- Cláudia Almeida e Mariana Barata descobrem mecanismo de gene de risco que desregula atividade cerebral
- Medicamento anticonvulsivo usado na epilepsia surge com potencial para proteger cérebro
Uma equipa de investigadores da NOVA Medical School descobriu um mecanismo associado à doença de Alzheimer, que tem potencial para ser tratado com um medicamento anticonvulsivo já existente no mercado. A investigação liderada por Cláudia Almeida mostra como a perda de função da proteína BIN1, fortemente associada ao risco de desenvolver a doença de Alzheimer, provoca hiperatividade no cérebro geradora de convulsões como na epilepsia, o que abre caminho a novos tratamentos. O estudo foi publicado na revista científica Cell Reports.
“A nossa principal descoberta foi que a BIN1 desempenha um papel crucial na manutenção das sinapses inibitórias, contrariando descobertas anteriores. As sinapses inibitórias são como uns travões naturais da atividade cerebral. Quando a BIN1 deixa de exercer a sua função, estes travões enfraquecem e provocam a hiperatividade neuronal - um mecanismo associado a convulsões e epilepsia. Curiosamente, alguns pacientes com Alzheimer desenvolvem epilepsia”, afirmam Claúdia Almeida e Mariana Barata, as principais autoras do estudo.
É neste momento que entra em ação o medicamento anticonvulsivo já usado no tratamento da epilepsia. “Esta descoberta traz novas possibilidades para intervenções precoces na proteção da função cerebral e sugere que medicamentos já existentes, como o Levetiracetam, podem ser úteis no controlo da progressão da doença de Alzheimer, muito antes desta se manifestar”, defendem as investigadoras, recorrendo a uma analogia para explicar o processo: “O cérebro é como uma cidade com muito trânsito, onde os semáforos controlam o fluxo de carros. As sinapses inibitórias são os sinais vermelhos que param o trânsito para evitar o caos. A BIN1 ajuda a manter os semáforos a funcionar. Quando a BIN1 é perdida, os sinais falham - o trânsito (atividade neuronal) aumenta descontroladamente, causando acidentes/convulsões (hiperexcitabilidade). O Levetiracetam age como um controlador de tráfego de emergência, ajudando a restaurar a ordem”.
O estudo, que contou com a colaboração de Edgar Gomes do Gulbenkian Institute for Molecular Medicine, além de reforçar o papel da proteína BIN1 na origem da doença, os resultados apresentam novas perguntas para a investigação: será possível potenciar a função dessa proteína? E poderá o Levetiracetam ou outros similares realmente atrasar a progressão da Alzheimer em doentes com risco genético elevado?
Embora mais estudos e ensaios clínicos sejam necessários, a descoberta representa um avanço promissor na luta contra uma doença neurodegenerativa que se estima afetar 1 em 10 pessoas com mais de 65 anos e cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo.
Leia o estudo completo "Alzheimer's genetic risk factor Bin1 controls synapse vesicle exo-endocytosis in inhibitory synapses" em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40674214/