PATHS OF IMPACT | CÉSAR CUNHA

O investigador madeirense César Cunha conduz uma investigação pioneira sobre a doença de Alzheimer, com o apoio de uma bolsa da Novo Nordisk Foundation e em estreita colaboração com o Broad Institute of MIT and Harvard. 

 

César Cunha concluiu o Mestrado em Investigação Biomédica com especialização em Neurociências na NOVA Medical School: “Era um dos únicos mestrados em Portugal pioneiros num modelo de ensino amplamente utilizado internacionalmente especificamente adequado à investigação científica.” 

1. Que papel teve o Mestrado da NOVA Medical School na sua formação científica e na escolha do Alzheimer como foco de investigação? 

 O International Master's in Biomedical Research (NBR), cujo fundador Paulo Pereira é o recentemente promovido Reitor da Universidade Nova de Lisboa, teve um papel crucial no meu percurso académico. É um mestrado com uma abordagem diferenciada à formação para a investigação que se distingue do típico formato de mestrado em PortugalTodo o corpo docente, colegas, convidados externos e oportunidades de colaboração foram fundamentais para o seu sucesso. Quando concorri ao mestrado, já tinha a intenção de perseguir investigação em Alzheimer´s e acabei por ter a oportunidade de executar o meu projeto de mestrado em colaboração com a Drª Cláudia Guimas Almeida no antigo CEDOC, atualmente NMS Research.  

 

2. Como surgiu a oportunidade de integrar esta colaboração com o Broad Institute e a bolsa da Novo Nordisk Foundation? 

 Copenhagen Bioscience PhD Programme é uma iniciativa da Novo Nordisk Foundation que permitiu que 15 investigadores internacionais desenvolvessem os seus doutoramentos na Dinamarca. Eu já tinha o objetivo de fazer o doutoramento fora de Portugal, e na altura identifiquei este programa doutoral como o mais promissor. Candidatei-me e fui afortunado por ter sido um dos escolhidos para integrar um grupo global de jovens investigadores. A colaboração com o Broad Institute of MIT and Harvard apareceu por um interesse mútuo nos projetos de investigação. Fazer o doutoramento na Dinamarca obriga a que parte dele seja feito numa instituição estrangeira. Sendo o meu doutoramento focado em genética humana e métodos computacionais em Alzheimer´sBroad Institute, que é o líder mundial em genética humana, fez todo o sentido como parceiro no meu doutoramento. Estabelecemos contactos com investigadores de interesse no Broad Institute, discutimos os projetos e concordámos que a colaboração seria um bom fit 

 

3. Pode explicar, de forma acessível, o objetivo principal do seu projeto de doutoramento e o que o torna particularmente relevante? 

De uma forma muito resumida, o meu projeto de doutoramento foca-se em decifrar a arquitetura genética de Alzheimer´s, no Novo Nordisk Foundation Center for Basic Metabolic Research (CBMR) juntamente com os meus orientadores Dr. Tuomas Kilpeläinen e Drª Ruth Loos, uma das epidemiologistas e geneticistas mais reconhecidas na esfera científica. Os meus projetos focam-se em descodificar a biologia de risco de Alzheimer’s ao longo dos seus principais eixos de risco: predisposição genética, idade avançada e fatores de risco modificáveis. O meu objetivo é descobrir o que leva ao desenvolvimento da doença de forma a podermos desenvolver terapêuticas para prevenir o seu aparecimento, ao invés de tentar curar Alzheimer’s na sua fase terminal. No primeiro projeto, estamos interessados em caraterizar o que diferencia a arquitetura genética de Alzheimer de outras doenças neurológicas porque temos razão para acreditar que o atual panorama genético de Alzheimer’s é altamente inespecífico. No segundo projeto, estamos interessados em utilizar a variabilidade encontrada nos estudos genéticos de larga escala em Alzheimer’s para descobrir mutações e genes que ajudem a explicar o porquê de nem todo o envelhecimento levar ao desenvolvimento de Alzheimer’s. No terceiro projeto, estamos interessados em usar genética para entender como é que os maiores fatores de risco modificáveis para Alzheimer’s – obesidade, diabetes tipo 2 e outros fatores cardiometabólicos – contribuem para um risco acrescido de desenvolver Alzheimer’s. O último projeto, e aquele que foi desenvolvido em colaboração direta com a Drª Melina Claussnitzer e Dr. Thouis Jones no Broad Institute, líderes em métodos computacionais e na área de variant-to-function, foca-se em descodificar a arquitetura genética de Alzheimer’s em todos os tecidos, órgãos e células do corpo humano. Este projeto tem o potencial de mudar fundamentalmente a forma como olhamos para a doença de Alzheimer’s, muito à semelhança de quando investigadores no CBMR descobriram que a arquitetura genética de obesidade estava enriquecida no cérebro e não no tecido adiposo, o que levou ao desenvolvimento de uma onda de medicamentos de última geração contra a obesidade.  

 

4. O que aprendeu até agora sobre lidar com o falhanço científico e como isso moldou a sua forma de trabalhar? 

 O falhanço científico faz parte do avanço científico. Demonstrar o que não é verdade é tão importante como mostrar aquilo que é. O que estes anos mais me ensinaram foi que o mais importante é a qualidade da pergunta científica. O falhanço vai sempre fazer parte do processo e precisamos de fortitude mental para olhar para as evidências, reagrupar e seguir a data, não o nosso bias 

 

5. Que mensagem deixaria aos estudantes e investigadores da NOVA Medical School que ambicionam fazer ciência com impacto global? 

O mais importante para mim tem sido o lidar com estar a fazer investigação em Alzheimer’s num centro que não é de neurociência. Os meus orientadores são líderes na área de genética e cardiometabolismo, mas não em Alzheimer’s. Embora por vezes seja um desafio, os benefícios têm sido imensuráveis pelo simples facto de poder olhar para uma mesma pergunta científica de um ponto de vista completamente diferente. A minha mensagem é que qualquer porta está aberta a quem estiver disposto a bater.  

CÉSAR CUNHA

 

 

 

 

 

Associate Research Fellow no Broad Institute of MIT and Harvard

Alumnus NOVA Medical School