Financiamento internacional para projeto de inovação em cancro

Projeto da NOVA Medical School na área do cancro recebe financiamento internacional para desenvolvimento e validação de tecnologia. Com o financiamento do Concurso CaixaImpulse Innovation 2023 da Fundação la Caixa, a investigadora Guadalupe Cabral irá estudar a aplicabilidade de um tipo de células do sistema imunitário, um novo subtipo de neutrófilos, como marcador para prever a progressão do cancro da mama e a resposta à imunoterapia, e demonstrar o papel destas células como alvo terapêutico, num projeto com a duração de 2 anos.

 

Bruna Correia, Daniela Grosa, Guadalupe Cabral, Rute Salvador, António Jacinto

O Cancro da Mama é uma das principais causas de mortalidade entre as mulheres em todo o mundo, em grande parte devido à metastização. A imunoterapia direcionada aos linfócitos é um tratamento emergente para o Cancro da Mama Metastático, embora o seu sucesso seja atualmente limitado, sendo urgente encontrar formas para melhorar a resposta ao tratamento dos pacientes com esta doença.

A equipa multidisciplinar coordenada por Guadalupe Cabral, que inclui especialistas em oncologia Sofia Braga e Telma Martins, do Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca e do CUF Descobertas, identificou recentemente um subtipo de neutrófilos abundante em doentes com Cancro da Mama Metastático que inibem a ação do anti-tumoral do sistema imunitário e possuem uma capacidade migratória excecional. A partir desta descoberta, os investigadores consideraram que seria interessante explorar estes mecanismos para demonstrar o papel central deste subtipo de neutrófilos, tanto como (i) biomarcador, isto é, moléculas usadas para prever a progressão do Cancro de Mama Metastático e a resposta às atuais imunoterapias baseadas em linfócitos, bem como (ii) um alvo a considerar incluir em futuras estratégias de imunoterapia, para maximizar a eficácia do tratamento.

Numa metáfora com super-heróis, Guadalupe Cabral explica "imaginemos o nosso corpo como uma cidade protegida por uma equipa de super-heróis (células do sistema imunitário) para nos proteger de invasores (as células cancerígenas). Um dos super-heróis desta equipa defensora são os neutrófilos. Investigação recente revelou que determinadas subpopulações dentro dos neutrófilos traem o seu compromisso de defensores da cidade, alinhando-se com os invasores e ajudando-os a expandir-se em vez de os combater. Além disso, esses neutrófilos traidores comprometem ativamente os esforços de outros super-heróis (nomeadamente linfócitos), tornando mais difícil para estas células do sistema imunitário, cumprir a sua missão. Assim, o aumento dos neutrófilos traidores é uma grande preocupação porque, em cenários como o Cancro da Mama, estas células podem agravar a situação clínica e inclusive impedir o sucesso de reforços (imunoterapia), crucial para fortalecer a equipa de super-heróis do sistema imunitário. O projeto NeutroTarget entra aqui em ação, como uma “task-force” especial que deseja examinar meticulosamente esses neutrófilos traidores e descobrir como explorar estas células para prever o desempenho da equipa de super-heróis, especialmente quando ela recebe os reforços (imunoterapia). Para além disso, o NeutroTarget tem como objetivo elaborar estratégias para impedir que essas células alcancem os locais onde os invasores (células cancerígenas) se estabeleceram e assim evitar que comprometam a ação da equipa de defesa. Resumindo, o objetivo final do NeutroTarget é então contribuir para que a equipa defensora da cidade seja o mais robusta possível e capaz de derrotar as forças inimigas."

Numa perspetiva ampla e translacional, a equipa de investigadores espera que, com este projeto, abordagens específicas baseadas em neutrófilos forneçam mais opções terapêuticas aos médicos que permitam direcionar os pacientes para um tratamento individual mais eficaz, contribuindo para uma alocação mais eficiente de recursos humanos e financeiros.

Neutrófilos imunossupressores específicos podem ter uma capacidade migratória excecional para os locais do tumor/metástases, onde podem prejudicar a atividade anti-tumoral dos linfócitos. Assim sendo, essas células podem agravar o Cancro da Mama Metastático e comprometer a eficácia dos tratamentos, incluindo a imunoterapia. O NeutroTarget tem como objetivo explorar este novo subtipo de neutrófilos, como um fator preditivo para a resposta à imunoterapia e como um potencial alvo terapêutico que pode servir como um adjuvante em novas estratégias imunoterapêuticas.

 

Este projeto é revelador da aposta em transferência de tecnologia por parte da NOVA Medical School e do interesse dos investigadores na translação do conhecimento que estão a gerar. Para Guadalupe Cabral este financiamento da Fundação ”la Caixa” e o BPI em parceria com a Fundação para a Ciência e Tecnologia, tem um grande significado pois representa a validação do trabalho da equipa, da sua dedicação e abordagem inovadora e para além disso um valioso reconhecimento do impacto e relevância do trabalho a nível da comunidade científica internacional. A investigadora acredita que esta bolsa terá um efeito transformador tanto na sua investigação como na sua carreira e afirma que "esta conquista é uma motivação poderosa para nos aventurarmos em territórios menos familiares do empreendedorismo, como forma de acelerar a transição das nossas descobertas para a prática clínica". Para além do impulso financeiro, este financiamento também contribuirá com mentoria e formação em diferentes fases de desenvolvimento do projeto, desde a geração da prova de conceito até à preparação para a transferência dos ativos resultantes para o mercado.

O projeto NeuroTarget está relacionado com o objetivo 3 - Saúde de Qualidade para todos, em todas as idades. Mais especificamente, ao ter como objetivo estabelecer uma prova de conceito para o desenvolvimento futuro de tecnologias com potencial de permitir direcionar os pacientes com Cancro da Mama Metastático para tratamentos mais eficientes e minimizando a toxicidade associada a agentes terapêuticos desnecessários, garantirá que os pacientes recebam o melhor cuidado possível, ao mesmo tempo que evita o desperdício de recursos.

 

O programa de Inovação CaixaImpulse, da Fundação "la Caixa", ajuda a transferir o conhecimento científico para a sociedade e incentiva a criação de novos produtos, serviços e empresas relacionados com as ciências da vida. Apoia projetos biomédicos inovadores, ajudando-os a validar os seus ativos e a definir a sua estratégia de valorização e exploração, aproximando-os do mercado. No concurso de 2023 a Fundação la Caixa e o BPI concederam seis financiamentos CaixaImpulse Innovation em Portugal. Os investigadores e projetos distinguidos são os seguintes:

  • Victoria Leiro, Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) - Desenvolvimento de um agende de contraste para melhorar a precisão de diagnóstico AVC;
  • Pedro Soares-Castro, Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM)  - Nanorrevestimentos com propriedades antimicrobianas para prevenir as infeções das próteses articulares;
  • Ana Pina, Univerdidade NOVA de Lisboa; Ana Baptista, Centro de Investigação de Materiais (CENIMAT), FCT-NOVA; Leonor Morgado, UCIBIO – Unidade de Ciências Biomoleculares Aplicadas,  Faculdade de Ciências e Tecnologia; Felipe Conzuelo, Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier (ITQB NOVA); Erin Tranfield, Instituto Gulbenkian de Ciência: Baterias biológicas à base de colagénio como fonte de energia para dispositivos eletrónicos cutâneos
  • Mónica Serrano, ITQB NOVA: Desenvolvimento de uma alternativa mais barata, rápida e versátil do que a PCR para a deteção de agentes patogénicos;
  • Luisa Lopes, iMM: Nova tecnologia que utiliza “luminopsinas” para tratar os sintomas motores associados à doença de Parkinson.

Saiba mais sobre todos os projetos no site da Fundação "la Caixa" | Caixa Research.

Maria de Guadalupe Gonçalves Cabral
Professora Auxiliar Convidada
Sofia Braga
Clinical Fellow
Bruna Correia
PhD Student
Daniela Grosa
MSc Student
Rute Salvador
PhD Student
António Jacinto